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Cinco princípios fundamentais para capacitar os pacientes e promover a autoeficácia

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A pandemia da COVID-19 foi uma faca de dois gumes para o engajamento dos pacientes. Para alguns, a incapacidade de acessar cuidados de saúde tradicionais, de modo presencial, abriu suas mentes para soluções virtuais e os ajudou a se engajarem mais profundamente com sua saúde. Para outros, os últimos anos ampliaram sentimentos de isolamento e desamparo, que perpetuaram uma sensação de sobrecarga em relação à sua saúde. Isso é especialmente verdadeiro para muitas pessoas com condições crônicas.

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), por exemplo, é a quinta principal causa de morte por doença no Brasil e uma condição que requer esforço diário para ser gerenciada adequadamente. Esta doença pode ser muito estressante porque falta de ar, baixa saturação de oxigênio e ataques de tosse são um risco constante.

Muitos pacientes se encontram presos em casa à medida que a doença progride. Outros não têm confiança para se envolver no mundo com segurança, têm medo de ter um incidente agudo que traga constrangimento ou temem o fardo de carregar oxigênio portátil com eles em todos os lugares. Acrescente a isso a falta de acesso a cuidados de qualidade, um sistema de saúde fragmentado e vários medicamentos para gerenciar a condição, e muitos pacientes sucumbem a essa experiência como sua única realidade possível.

Um componente-chave na reversão desse paradigma é a autoeficácia do paciente: a crença de uma pessoa em sua capacidade de alcançar um determinado resultado alterando suas ações. A autoeficácia é um componente fundamental para gerar engajamento e pode funcionar em conjunto com outras táticas para promover mudanças de comportamento duradouras nos pacientes, mesmo por meio do atendimento virtual.

Felizmente, muitas das soluções virtuais e digitais que surgiram durante a pandemia oferecem opções de atendimento inovadoras, especialmente críticas para quem não tem acesso ao atendimento presencial. Muitas oferecem cuidados centrados no paciente e oferecem ferramentas personalizadas para ativar e engajar o paciente no gerenciamento diário de sua condição, como tomar medicamentos conforme prescrito, fazer exercícios regulares e adotar uma dieta saudável.

Médicos e outros profissionais de saúde em todo o continuum de cuidados podem ajudar a aproveitar soluções novas e inovadoras para criar uma “equipe dos sonhos” multidisciplinar baseada em cuidados centrados na pessoa.

Cada profissional desempenha um papel singularmente importante na equipe e todos devem trabalhar em conjunto para ensinar, orientar, ouvir e apoiar as pessoas em cada etapa de sua jornada para uma saúde melhor.

A seguir descrevemos cinco princípios fundamentais para ajudar a capacitar os pacientes e promover a autoeficácia.

Aplique o princípio de “Cachinhos Dourados”

Primeiro, ao definir metas e elaborar planos de ação, é útil aplicar o princípio de “Cachinhos Dourados”. De acordo com esse princípio, assim chamado por analogia à história infantil, as pessoas devem estabelecer metas que sejam simultaneamente alcançáveis e desafiadoras.

Se o objetivo for muito fácil, pode parecer insignificante. Se o objetivo for muito difícil, o paciente pode ficar desanimado e frustrado. Ao criar metas e planos de ação, lembre-se das circunstâncias únicas do paciente enquanto trabalham juntos para elaborar um plano empolgante e engajador.

Celebre as pequenas vitórias

Em segundo lugar, comemore as pequenas vitórias. Cada passo à frente, não importa quão pequeno, indica uma vontade de mudar e um compromisso com o avanço da saúde.

Ao permanecer positivo sobre a direção em que o paciente está se movendo e ajudá-lo a promover uma mentalidade de crescimento, é mais provável que ele permaneça engajado, desenvolva confiança e continue esperançoso em alcançar melhor saúde e mais bem-estar.

Dados acionáveis impulsionam a mudança de comportamento

Terceiro, dados acionáveis impulsionam a mudança de comportamento. Ao contrário dos métodos tradicionais de prestação de cuidados, as soluções virtuais de saúde geralmente incluem dispositivos conectados, como os smartwatches, como parte de suas ofertas. Esses dispositivos permitem que os pacientes obtenham informações sobre como as atividades diárias afetam sua saúde.

Esse feedback direto impulsiona a conscientização e a mudança, especialmente quando combinado com estímulos acionáveis. Mais importante ainda, as soluções multidimensionais podem capacitar os pacientes a serem curiosos, fazer perguntas e ajustar seus hábitos diários para apoiar sua saúde.

A mudança de comportamento é complexa

Quarto, a mudança de comportamento é complexa e requer mais do que apenas autoeficácia. Os pacientes precisam não apenas de capacidade (conhecimento e habilidades) para mudar, mas também de motivação (desejo de mudar e autoeficácia) e oportunidade (apoio social e ambiental necessário) para criar mudanças duradouras.

A autoeficácia é um componente central para melhorar a motivação do paciente, e é crucial que os médicos e demais profissionais envolvidos entendam como a autoeficácia de um paciente se relaciona com outros fatores que afetam sua capacidade de mudar.

A construção de relacionamentos de longo prazo com os pacientes pode ajudar a equipe a obter o contexto necessário para fornecer cuidados completos e estar na mesma página que os pacientes.

É importante facilitar a conexão humana

Por fim, é importante facilitar a conexão humana, independentemente do modelo de atendimento. Olhando para a teoria da autodeterminação, o relacionamento – uma conexão com os outros e algo maior do que si mesmo – é um dos três requisitos básicos para o crescimento psicológico, ao lado de autonomia e competência.

Como seres humanos, precisamos sentir que pertencemos e somos apoiados. E, como a saúde individual é uma grande parte da nossa experiência coletiva, ter um componente humano na jornada do cuidado é fundamental.


É fato comum para a grande maioria, senão todos os médicos, encontrar pacientes querendo mudanças, mas com dificuldade para saber por onde começar.

Uma parte importante do trabalho com esses pacientes é reformular seus pensamentos sobre cada novo desafio, para que se concentrem em suas escolhas de permanecerem engajados, mesmo quando novos obstáculos venham a aparecer.

Seja no cuidado individual ou dentro de uma equipe multidisciplinar, deve-se considerar a autoeficácia do paciente como uma peça importante de cada intervenção e como um papel de todos nessa equipe.

É preciso ajudar as pessoas a entenderem que têm uma escolha em sua saúde, que têm controle sobre suas próprias vidas e que podem se tornar condutores de suas próprias jornadas de cuidado.

 

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