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A maneira diplomática de encerrar a consulta do paciente

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Terminar a consulta pode às vezes ser complicado

É sabida a pressão do tempo que há sobre muitas consultas médicas hoje em dia, principalmente na rede pública e no atendimento por convênios. Por isso, é muito importante finalizar cada consulta de maneira eficaz e apropriada, evitando que permaneçam dúvidas ou pendências que poderão exigir retorno antes do que seria necessário. Como então conseguir encerrar a consulta da melhor forma?

Um primeiro passo para terminar a visita de forma adequada e pontual é começar com um planejamento claro da consulta. Principalmente se é um paciente que você já conhece, pode ser necessário uma revisão prévia do prontuário para lembrar possíveis condições do paciente, acompanhamentos que precisem ser feitos, etc. Mesmo no caso de novos pacientes, tenha em mente sempre as etapas que deverão se seguir, conhecendo o paciente, ouvindo sobre seus sintomas, discutindo um possível diagnóstico, tirando dúvidas, etc.

Para os pacientes antigos, é uma boa ideia aconselhar que eles façam uma lista com os tópicos que precisam discutir na consulta e possivelmente enviem esta lista previamente ao médico. Esta tática ajuda a garantir que não haja um momento "Ah, a propósito..." quando você pensou que a consulta já estava no fim.

Independentemente de quão minucioso você seja em uma consulta, chega um momento que ela deve acabar. É interessante que esta finalização ocorra de um modo que consiga ao mesmo tempo dar um senso de continuidade terapêutica após deixar o consultório, e também transmitir um encerramento satisfatório e sem pressa.

Um ponto importante para concluir a consulta com sucesso e no prazo é solicitar a participação do paciente no entendimento e na tomada de decisões compartilhadas ao longo da consulta. Estudos[1] com pacientes constataram consistentemente que os médicos que se envolvem em um "estilo participativo de tomada de decisão" tiveram melhores resultados de saúde e maior retenção e satisfação do paciente.

Envolver o paciente na discussão e nas decisões reduz as chances de que vocês estejam em páginas diferentes, só descobrindo isso no momento que você pensa que encerrou a consulta, mas o paciente ainda tem mais a discutir.

Deixando a conversa fluir

Para entender em quais decisões você estará participando com o paciente, é aconselhável permitir que o elemento conversacional da consulta comece desimpedido. Não interrompa a declaração de abertura do paciente. Resista à tentação de interromper ou preencher uma pausa no estágio inicial da conversa. Uma consulta que não começa bem levará o dobro do tempo para terminar.

Também é muito importante ouvir ativamente e encorajar o paciente a continuar falando e a solicitar suas opiniões. Isso ajuda você a evitar pular para um diagnóstico depois de um determinado sintoma sem que todo o quadro geral tenha sido estabelecido.

Saiba aproveitar a deixa da carga emocional e dos tópicos da consulta para entrar na discussão. Lutar contra as necessidades do paciente, particularmente quando elas são emocionais, por uma questão de respeitar o relógio na parede, apenas condena a consulta ao fracasso. E não é para isso que você está na sala. Reconhecer as emoções e o contexto do paciente levará a planos de tratamento mais úteis e irá gerar maior satisfação tanto para o paciente quanto para o médico.

Mostrando sua compreensão

Use frases de legitimação, respeito, apoio e parceria para validar os sintomas ou experiências do paciente. Isto também demonstra a sua compreensão do caso e permite a transição para a discussão do seu plano de tratamento proposto ou as opções de tratamento:

  • Legitimação: "Deve ser perturbador ter esses problemas."
  • Respeito: "Você tem feito o melhor para lidar com isso."
  • Suporte: "Eu gostaria de ajudar."
  • Parceria: "Talvez possamos trabalhar juntos."

Frases deste tipo ajudam a levar a consulta a uma conclusão tranquila. Esteja atento também às mudanças na reação do paciente: o surgimento de uma pausa ou de palavras de transição como "Então...", "Bem..." ou "OK..." podem indicar um momento apropriado para introduzir ou reiterar o plano de tratamento e finalizar o encontro, definindo um retorno para manter o acompanhamento.

Pressionar o paciente além de sua capacidade de energia física ou emocional em uma única visita pode ser contraproducente. Se este for o caso, isso pode indicar a necessidade de um intervalo de acompanhamento menor do que você poderia ter antecipado ao iniciar a consulta.

Confirme sua opinião de que os objetivos da consulta foram atendidos. Você pode dizer algo tão simples como: "Há algo mais com o que eu possa ajudá-lo hoje?" Se a resposta for outra grande lista de questões, recomende que um compromisso adicional seja feito muito em breve, a fim de dedicar tempo adequado a essas preocupações. É essencial para a satisfação e retenção do paciente que eles não se sintam apressados, sendo portanto mais apropriado que haja uma nova consulta para atender às demandas do paciente com calma.

Ter uma declaração final apropriada

Esta finalização não deve ser algo estereotipado ou mecânico, mas sim algo que transmita uma mensagem de continuidade. Isso pode se estender aos outros membros da equipe de atendimento que, em seguida, levarão o paciente para os exames ou laboratórios, ou fornecerão materiais educacionais, além de agendar um retorno para acompanhamento sobre o conteúdo da consulta realizada.

Sempre termine a consulta com um sorriso e um aperto de mão, e faça questão de usar o nome do paciente ao fazer sua declaração final. As primeiras impressões são fundamentais e as últimas impressões também são importantes. Neste momento, é apropriado ser assertivo — o que, transmitido de modo caloroso, é uma característica positiva.

Use um sistema de sinalização, se disponível, em seu prontuário eletrônico para observar quais pacientes são mais bem atendidos por uma maior frequência de consultas e / ou consultas mais longas, de modo a estar ainda melhor preparado para atendê-los quando retornarem.

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Como o médico David Dugdale escreveu de forma concisa [2]:

Com uma crescente ênfase no valor e eficiência na prestação de cuidados de saúde, um tempo de qualidade entre médico e paciente é um recurso cada vez mais valioso. Médicos passam seu tempo em contato cara a cara com pacientes reunindo informações e desenvolvendo um relacionamento, fazendo trabalho administrativo relacionado às consultas e mantendo sua base de conhecimentos. Mas é importante ressaltar que o tempo é sempre finito: independentemente das exigências que um médico enfrente, há apenas 24 horas por dia.

Hoje, a maioria dos pacientes respeita o tempo de um médico e também está condicionada, por conta do mercado atual, a não esperar receber realmente muito tempo e atenção de um médico. Se você é capaz de dedicar um tempo apropriado e finalizar as consultas de forma construtiva e eficaz, então os pacientes de fato acreditarão que você se importa.

 

Referências

[1] Characteristics of Physicians with Participatory Decision-Making Styles, disponível em http://annals.org/aim/article-abstract/709497/characteristics-physicians-participatory-decision-making-styles.

[2] Time and the Patient–Physician Relationship , disponível em https://mef.med.ufl.edu/files/2009/02/time-and-patient-relationships.pdf.

 

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