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O que pensam os médicos da nova geração?

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Já discutimos antes sobre como os pacientes da geração dos Millennials têm expectativas diferentes do que as gerações anteriores quanto aos serviços de saúde. Mas estas características diferentes das novas gerações não são exclusividade dos pacientes, sendo identificada também toda uma forma de pensar e agir diferente nos novos médicos, que estão no início de suas carreiras.

Segundo artigo recente publicado no periódico JAMA[1], os médicos Millennials vêm ganhando alguns rótulos de colegas de gerações anteriores que variam de "impacientes, distraídos, excessivamente socializados e qualificados" a "profundamente capacitados, colaborativos e inovadores". Principalmente na época do treinamento, como em estágios e residência, essas características se chocam com a natureza hierárquica e controlada dos hospitais, potencialmente prejudicando um ambiente produtivo de aprendizagem em razão das expectativas incompatíveis entre os médicos educadores e seus estagiários.

O mesmo pode ser verdade para além do treinamento, quando já estão exercendo completamente a prática médica. Caso estes jovens médicos estejam em especialidades e ambientes que funcionem de modo colaborativo com outros profissionais, poderá haver discrepâncias no modo como eles escolhem abordar certas situações em relação à escolha de seus colegas.

Mas analisando melhor a situação, o que se percebe é que apesar do conflito próprio de gerações, isso não significa que as características dos Millennials sejam negativas. Pelo contrário, tendo nascido já rodeados de tecnologias, e incorporando-as em suas vidas desde cedo, eles foram moldados por uma profunda expansão da tecnologia da informação, redes sociais aprimoradas e uma cultura global conectada, de modo que as diferenças desta geração refletem apenas uma resposta natural às mudanças observadas no próprio mundo.

Millennials e o tempo de tela

Eles são mais imediatistas; estão acostumados com a rapidez que a tecnologia proporciona e esperam respostas rápidas e atenção no momento que precisam, para resolver com agilidade as situações com as quais têm que lidar. Por terem crescido em meio à comunicação instantânea e à grande disseminação da informação, seu processo de tomada de decisão se dá de modo um pouco diferente do que se observa com as gerações anteriores, se utilizando mais de redes de colaboração. Sempre conectados, seja nos computadores ou em seus celulares, é simples e útil consultar quaisquer dados que precisem, buscar opiniões e se comunicar com colegas e outros profissionais.

Para alguns médicos mais velhos, e às vezes mais resistentes à tecnologia, essa questão dos Millennials estarem grande parte do tempo voltados para as telas é mal vista. Muitos acreditam que eles estão apenas delegando aos softwares médicos o trabalho que antes era feito manualmente, e que isto prejudica o foco no paciente.

Estas contradições entre as gerações são naturais, pois é comum ao ser humano certa resistência a mudanças. Médicos que passaram toda sua carreira fazendo todo o registro de dados à mão podem, por exemplo, encontrar dificuldades em digitar, não estando habituados a isto, o que pode tornar o processo de inserir o histórico do paciente ou documentar a avaliação e o tratamento mais complicado, ao invés de mais ágil e eficiente.

A chave para ambas as gerações aproveitarem da melhor forma os benefícios que a tecnologia tem a oferecer e tirarem vantagens das mudanças na área de saúde é a flexibilidade. É preciso estar aberto a conhecer as novidades, ver como elas se adaptam à rotina de cada um, e decidir então o que de fato será benéfico ao ser incorporado e o que é na verdade desnecessário. A tecnologia não pode ser totalmente dispensada, mas também não pode se tornar o centro das atenções, prejudicando o contato humano e a atenção ao paciente.

Millennials e a "falta de foco" na carreira

Outra questão que se discute sobre os Millennials diz respeito a uma "falta de foco". Essa visão decorre principalmente de uma mudança de prioridade, que passou da mentalidade do médico viciado em trabalho para uma mentalidade que valoriza o equilíbrio do estilo de vida, com os médicos possuindo uma vida para além das paredes do consultório ou do hospital.

Médicos da nova geração têm expectativas para suas carreiras, mas sem negligenciar suas vidas pessoais. O mundo atualmente tem dado atenção cada vez maior ao bem-estar e a uma vida saudável e equilibrada, e os jovens médicos gerenciam suas carreiras de modo a tentar ao máximo chegar neste equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ter controle sobre seus horários e ter mais acesso a novas oportunidades.

Os Millennials não são menos apaixonados pela medicina, ou sem foco em suas carreiras, mas buscam equilibrar isso com outros interesses, como empreendedorismo, consultoria e pesquisa. Isso não faz com que eles tenham "falta de foco", e sim demonstra criatividade e ambição.

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O choque de gerações é algo comum e que se faz presente nos mais diferentes campos da vida. O importante é que ambos os lados busquem entender as diferenças existentes em luz da compreensão que o mundo está em constante mudança, de modo que nenhum dos lados está "errado". É necessário apenas que as pessoas saibam utilizar estas diferenças para somar, buscando o melhor que cada um tem a oferecer e assim aproveitando o máximo de benefícios, seja para a promoção da saúde, para um melhor aprendizado ou para qualquer outra finalidade.

 

Referências

[1] Mentoring Millennials, disponível em https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2678619.

 

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